17 outubro 2006

 

O barulho do silêncio

O que a gente ouve, não é nem de longe o som que entra em nossos ouvidos...





Eu estava saindo de casa, como sempre na mesma hora.
Chovia forte, pelo que eu podia ouvir.
O barulho do vento era quase ensurdecedor, por causa das frestas na janela por onde ele passava espremido e como que gritando.

O elevador também chamava minha atenção. Um bip monótono, repetitivo e quase frenético, do sistema de segurança, que devia estar com algum defeito.

Para completar minha agonia, uma rajada de vento desencadeou um bater de portas. E provavelmente alguém, assustado, deixara algo de vidro cair. O copo ou sei lá o quê que já era, restavam agora estilhaços ao chão.

Esperei alguns segundo por um grito, ele não veio, para meu alívio.

Mas, o susto veio. No momento em que o celular tocou no volume máximo. Desliguei, não queria ouvir mais nada.

Somente aquilo que eu não podia evitar. O que era compulsório.

Os cabos de aço do elevador lembravam sinos, desafinados. Ao fundo, um som abafado dos motores.

No estacionamento, um carro foi ligado. Pensei na fumaça, que som ela teria?

Outro susto: uma buzinada rasgou meus tímpanos, deixando meus nervos à flor da pele.

Tapei meus ouvidos e me encolhi num canto, entre uma pilastra e a parede. De ouvidos tapados. Mas ainda sim havia um som...

Fechei os olhos e me concentrei. Uma imagem me sobreveio. Era como um jogo, um fliperama, um game eletrônico: eu estava em um tipo de veículo que perseguia alguma coisa. As ruas e o cenário passavam por mim em alta velocidade.

Mas o objeto à minha frente não tinha uma forma, pelo menos que eu pudesse distinguir. Ele simplesmente era rápido, como a luz. E tinha um som...





Descobri que ele era o silêncio. E por mais que eu o perseguisse, jamais conseguiria encontrá-lo...

Pelo menos enquanto vivesse. E essa escolha, eu já havia feito!

08 outubro 2006

 

A corrida (Parte II)

Uma continuação... Ou um novo começo...





Depois da queda, seu desempenho ficara ainda mais prejudicado.
As feridas estavam abertas e latejavam.
Uma dor ácida que incomodava a cada movimento e que se agravava à medida que o suor umedecia sua pele.

Mas, a dor maior vinha de dentro.
Como um peso, uma verdadeira bigorna que imprensava sua consciência.

Agora ele tinha que chegar ao seu destino.
Precisava consertar o que havia feito.
Não se imaginava vivendo de uma outra forma. Era preciso limpar-se para sobreviver.
Dar uma descarga em suas culpas e misturar à fossa dos seus arrependimentos aquele lixo que obnubilava su’alma.

Era mais do que uma corrida contra o tempo.
Era uma corrida em que ele corria sozinho, consigo mesmo, contra ele próprio, e mesmo assim, nesse caso, havia o grande risco de chegar em último lugar.
O que significaria o fim de si mesmo.

Apesar de tudo, ele corria.
Com todo o peso que carregava, ele corria.
Mesmo sem forças, ele corria.

E foi assim que ele cruzou os portões do paraíso.
Chegando ao céu, ele se deparou com o azul.
E o branco.
E a paz e a calma que tudo isso representava.

Agora, ele não precisava mais correr.
E tudo valera ainda mais à pena!

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