04 setembro 2006

 

Trezentos Carneirinhos

Há um mundo dentro de nós, um gigante adormecido. Às vezes, é preciso que aconteçam certas coisas em nossas vidas para que todos os carneirinhos possam encontrar seu lugar no mundo.

Era uma vez trezentos carneirinhos. Dodô, dedé, tico, catita... Calma, calma. Não vamos dizer o nome de todos não. São apenas aqueles carneirinhos que pulam cerca e que contamos de um em um, quando queremos pegar no sono mais rápido. Enquanto os carneirinhos pulam a cerca, você me ouve e minha voz vai pulando e contando mais uma história de presente pra você.
Os carneirinhos tinham um pastor que tomava conta deles. Era só um pastor, no meio de tanta ovelhinha. Às vezes, o pastor se sentia muito só. Diferente. Como se estivesse em um outro ambiente, do qual não pertencia. Um peixe fora d’água, como dizem. Ele queria conversar, falar da sua vida, dos seus problemas. Mas como fazer isso? As ovelhas não queriam saber disso não. Elas só pensavam em pastar e pastar e pastar.
E a vida parecia tão monótona. A cada dia, tudo se repetia. A mesma rotina. Leva ovelha daqui, leva ovelha dali. Uma tenta fugir. Outra não quer andar. E lá ia o tempo se passando. E o pastor pastorando. E ele reclamava. Dizia que odiava carneiros. Que não sabia para que deus tinha criado carneiros. Que o mundo seria muito melhor sem carneiros.
Até que um dia. A cerca quebrou! Crash! Os carneirinhos fugiam, para todos os lados. Correndo em disparada. O pastor tentava desesperadamente contê-los, mas não havia como. Eles tinham que sair. E quando tudo saiu, o pastor acordou. Acordou para a realidade que o cercava. Agora sim ele estava só. Não havia mais o que pastorar. Só aquele imenso vazio à sua frente, com o qual ele não sabia lidar.
O pastor então pensou: por que eu não aprendi a gostar de carneiros? Eu era feliz e não sabia.

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