04 setembro 2006

 

Cem anos de solidão

Vida combina com gente. Quanto tempo leva para perceber que vale a pena dividir para somar. E multiplicar a vida, sempre, para sempre...


O menino tinha 14 anos quando pela primeira vez se apaixonou.
Ele podia sentir em seu corpo toda a vibração do amor.
Mas não demorou e tudo se acabou.
Sem que nada acontecesse.

Aos 17 anos, uma nova experiência.
Um amor de verdade. Arrebatador. Quente.
Dessa vez, as coisas correram diferente.
Houve uma maior aproximação.
Mas, o final veio em seguida.

Aos 20 anos, pela primeira vez, ele pôde experimentar algo real.
E tudo virou um vício. Uma dependência química.
Olfato, paladar, visão, tato e audição – eram os canais de entrada da sua droga.
Mas, sua heroína o traiu. Seu mundo desabou.
E um grande medo adveio como conseqüência.

Aos 28 ele ingressou em uma nova fase da vida.
Agora, maduro. A fruta da vida no ponto.
Um amor suculento e saudável. Cheio de tempos. Sem pressa.

Aos 34 vieram os filhos, que trouxeram em seguida uma dolorosa separação.
Aos 46, a casa foi quitada, mas viver sozinho nela era como estar em uma prisão.
No dia do seu aniversário de 55 anos, uma surpresa: uma linda netinha, que ele pôde conhecer através de uma foto.

Já não sabia mais quantos netos tinha, nem lembrava dos nomes dos bisnetos, quando chegou aos 87 anos. Mas, ainda, sofria, com disposição.

Aos 93, os pensamentos já não eram os mesmos.
E ficaram ainda mais diferentes, quando atingiu os 99 anos de idade!

Mas, depois de um século, ele percebeu... Porém sua visão já estava prejudicada pela catarata. De um ouvido havia ficado completamente surdo e o outro ainda captava algo graças ao minúsculo aparelho eletrônico. Seu olfato era branco, sem cor, já não havia mais graça. A pele já não reagia aos toques. E há algum tempo não se alimentava mais pela boca, portanto, os sabores eram algo do passado.
Todavia, cem anos haviam sido necessário para que ele percebesse.
Que sem o amor a vida é uma droga.
E foi quando, pela última vez, ele se apaixonou. Só que dessa vez, foi de verdade.

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